O PATINHO FEIO
O nascimento de um filho para
muitos casais é o culminar de um processo longo. A continuação da espécie, a
transmissão dos genes para uma nova geração, são encarados inconscientemente
como o apogeu de uma vida.
Todo o nascimento desperta as
mesmas perguntas. A quem o bebê puxou? Parece mais com o papai ou com a mamãe? Mal o pequeno abre os olhinhos,
e todo mundo já quer saber quais características foram herdadas de cada lado da família. Se os olhos têm a cor azul
como os da avó, se o nariz é o da mãe ou será como o pai, quando crescer.
Bem, essas são as expectativas de
todo o casal e Ariel, esperava ansiosa o nascimento do seu primeiro filho. Havia
muitas expectativas sobre o sexo do bebe, será uma linda princesa ou quem sabe um
principezinho?
Os meses custaram a passar, mas
em breve teria nos braços o fruto do amor verdadeiro como nos contos de fadas!
Numa manhã chuvosa e tranquila o
inesperado aconteceu, Ariel sentiu as fortes contrações indicando que o bebe resolveu
chegar duas semanas antes do prazo esperado. Como toda mãe de primeira viagem
todo o enxovalzinho estava pronto há meses dentro da pequena malinha com
enfeites de coroa, portanto, restava apenas correr para o hospital e confiar
que tudo iria correr bem!
Ariel sentia uma mistura de
emoção e o coração parecia que ia saltar-lhe do peito. Doutor Alfredo já estava
a postos com sua equipe na sala de parto. Com tudo sob controle, não demorou
muito para que todos pudessem ouvir o choro estridente do principezinho que
acabava de chegar nesse mundo doido.
Ariel não conseguiu conter as
lágrimas, era o milagre da vida em seus braços; com cabelos cor de ferrugem e a
pele... Bem, a pele lembrava um ovo de tico-tico. Que criança mais esquisita! Mas,
no inicio todos os bebes são mesmo esquisitos. Há quem diga que todo bebe tem
cara de joelho. Que crueldade!
A mãe levou seu pacotinho de
gente para a casa feliz da vida, afinal o filhote é sempre belo para a coruja. E,
por falar em coruja isso me fez recordar de uma fábula de Esopo:
A coruja e
a águia
Coruja e águia, depois de muita
briga, resolveram fazer as pazes.
- Basta de guerra - disse a
coruja. O mundo é tão grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os
filhotes uma da outra.
- Perfeitamente - respondeu a
águia. - Também eu não quero outra coisa.
- Nesse caso combinemos isso: de
ora em diante não comerás nunca os meus filhotes.
- Muito bem. Mas como vou
distinguir os teus filhotes?
- Coisa fácil. Sempre que
encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheio de uma
graça especial que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os
meus.
- Está feito! - concluiu a águia.
Dias depois, andando a caça, a
águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito
aberto.
- Horríveis bichos! - disse ela.
Vê-se logo que não são os filhos da coruja.
E comeu-os.
Mas eram os filhos da coruja. Ao
regressar à toca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi justar contas
com a rainha das aves.
- Quê? - disse esta, admirada.
Eram teus filhos aqueles monstreguinhos? Pois, olha não se pareciam nada com o
retrato que deles me fizeste...
MORAL: Quem o feio ama, bonito
lhe parece.
E, movida por este amor
incondicional Ariel sentia-se orgulhosa!
No início, as pessoas olhavam
para o bebe e embora o achassem esquisito sempre esboçavam uma palavra de
elogio:
- Um verdadeiro príncipe!
O casal já havia tentado
evidentemente descobrir a quem poderia ter puxado as características tão
peculiares do filho. Não chegaram a nenhuma conclusão!
No vilarejo as pessoas se reuniam
no final de tarde na praça para uma boa proza. E o rumo das prozas? O filho de
Ariel e Eric que crescia e a sua aparência diferente.
A criança era sempre alvo de
especulações e chacotas. Como poderia ter nascido com aquela aparência tão...
Tão esquisita?
- Será que esse bebe não foi
trocado na maternidade? Pode ter havido uma troca, sugeriam algumas pessoas! No entanto, nunca deixaram se levar por essa
ideia, aquela pequena criança era muito amada pelos pais.
Certo dia, em função do Bullying
que a criança sofria, Ariel e Eric entenderam que era hora de partir deixar o
vilarejo para trás e se mudaram para uma cidade distante na esperança de que
certamente conseguiriam proporcionar uma vida mais tranquila ao filho, longe de
olhares especuladores e pessoas preconceituosas.
Muitos e muitos anos se passaram
o vilarejo que Ariel deixou para trás, adquiriu um aspecto de cidade grande,
muitas coisas haviam mudado. No entanto, as pessoas mantinham o hábito de
reunirem na praça no final de tarde e os mais velhos num bate-papo nostálgico
recordavam momentos e pessoas. Todos questionavam, por onde estaria à família
de Marina, o filho esquisito!
Certa manhã houve grande alvoroço
principalmente nas mulheres, a notícia era de que acabara de chegar à cidade um
competente cirurgião, jovem e de tirar suspiros! De beleza rara, os cabelos
ruivos, olhos vibrantes, provocava todo tipo de reação por onde passava.
Num dos encontros do final de
tarde na praça, surgiu a brilhante e unanime ideia de recepcionar com um jantar
de boas vindas o ilustre e encantador cirurgião. Tudo foi preparado com “pompa
e circunstancia”. Os salões de beleza da cidade estavam com seus horários
esgotados, afinal quem sabe uma das donzelas poderia conquistar o coração do
príncipe ruivo encantado.
Num salão de festas requintado,
todos aguardavam ansiosa a chegada do ilustre convidado, que não demorou muito
para estacionar sua “carruagem”. O príncipe veio acompanhado por seus pais, uma
bela dama de cabelos presos e com um lindo vestido de cor carmim. O pai
elegantemente trajando um lindo terno risca de giz. O príncipe, bom este sem
comentários...
Num breve discurso o príncipe
ruivo quis agradecer o jantar de boas: - (...) Quanto aos meus pais, creio que
muitos desta querida cidade já os conhecem, afinal são filhos desta terra, no
entanto, para os que ainda não os conhecem, apresento-lhes: Ariel e Eric.
Abraços,
Ao longo da tua vida tem cuidado para não julgares as pessoas pelas aparências.
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