sexta-feira, 24 de março de 2017

Conto "O Patinho Feio"



O PATINHO FEIO


O nascimento de um filho para muitos casais é o culminar de um processo longo. A continuação da espécie, a transmissão dos genes para uma nova geração, são encarados inconscientemente como o apogeu de uma vida.
Todo o nascimento desperta as mesmas perguntas. “A quem o bebê puxou? Parece mais com o papai ou com a mamãe?” Mal o pequeno abre os olhinhos, e todo mundo já quer saber quais características foram herdadas de cada lado da família. Se os olhos têm a cor azul como os da avó, se o nariz é o da mãe ou será como o pai, quando crescer.
Bem, essas são as expectativas de todo o casal e Ariel, esperava ansiosa o nascimento do seu primeiro filho. Havia muitas expectativas sobre o sexo do bebe, será uma linda princesa ou quem sabe um principezinho?
Os meses custaram a passar, mas em breve teria nos braços o fruto do amor verdadeiro como nos contos de fadas!
Numa manhã chuvosa e tranquila o inesperado aconteceu, Ariel sentiu as fortes contrações indicando que o bebe resolveu chegar duas semanas antes do prazo esperado. Como toda mãe de primeira viagem todo o enxovalzinho estava pronto há meses dentro da pequena malinha com enfeites de coroa, portanto, restava apenas correr para o hospital e confiar que tudo iria correr bem!
Ariel sentia uma mistura de emoção e o coração parecia que ia saltar-lhe do peito. Doutor Alfredo já estava a postos com sua equipe na sala de parto. Com tudo sob controle, não demorou muito para que todos pudessem ouvir o choro estridente do principezinho que acabava de chegar nesse mundo doido.
Ariel não conseguiu conter as lágrimas, era o milagre da vida em seus braços; com cabelos cor de ferrugem e a pele... Bem, a pele lembrava um ovo de tico-tico. Que criança mais esquisita! Mas, no inicio todos os bebes são mesmo esquisitos. Há quem diga que todo bebe tem cara de joelho. Que crueldade!
A mãe levou seu pacotinho de gente para a casa feliz da vida, afinal o filhote é sempre belo para a coruja. E, por falar em coruja isso me fez recordar de uma fábula de Esopo:

A coruja e a águia

Coruja e águia, depois de muita briga, resolveram fazer as pazes.
- Basta de guerra - disse a coruja. O mundo é tão grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.
- Perfeitamente - respondeu a águia. - Também eu não quero outra coisa.
- Nesse caso combinemos isso: de ora em diante não comerás nunca os meus filhotes.
- Muito bem. Mas como vou distinguir os teus filhotes?
- Coisa fácil. Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheio de uma graça especial que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus.
- Está feito! - concluiu a águia.
Dias depois, andando a caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito aberto.
- Horríveis bichos! - disse ela. Vê-se logo que não são os filhos da coruja.
E comeu-os.
Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar à toca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi justar contas com a rainha das aves.
- Quê? - disse esta, admirada. Eram teus filhos aqueles monstreguinhos? Pois, olha não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste...

MORAL: Quem o feio ama, bonito lhe parece.

E, movida por este amor incondicional Ariel sentia-se orgulhosa!
No início, as pessoas olhavam para o bebe e embora o achassem esquisito sempre esboçavam uma palavra de elogio:
- Um verdadeiro príncipe!
O casal já havia tentado evidentemente descobrir a quem poderia ter puxado as características tão peculiares do filho. Não chegaram a nenhuma conclusão!
No vilarejo as pessoas se reuniam no final de tarde na praça para uma boa proza. E o rumo das prozas? O filho de Ariel e Eric que crescia e a sua aparência diferente.  
A criança era sempre alvo de especulações e chacotas. Como poderia ter nascido com aquela aparência tão... Tão esquisita?
- Será que esse bebe não foi trocado na maternidade? Pode ter havido uma troca, sugeriam algumas pessoas!  No entanto, nunca deixaram se levar por essa ideia, aquela pequena criança era muito amada pelos pais.
Certo dia, em função do Bullying que a criança sofria, Ariel e Eric entenderam que era hora de partir deixar o vilarejo para trás e se mudaram para uma cidade distante na esperança de que certamente conseguiriam proporcionar uma vida mais tranquila ao filho, longe de olhares especuladores e pessoas preconceituosas.
Muitos e muitos anos se passaram o vilarejo que Ariel deixou para trás, adquiriu um aspecto de cidade grande, muitas coisas haviam mudado. No entanto, as pessoas mantinham o hábito de reunirem na praça no final de tarde e os mais velhos num bate-papo nostálgico recordavam momentos e pessoas. Todos questionavam, por onde estaria à família de Marina, o filho esquisito!
Certa manhã houve grande alvoroço principalmente nas mulheres, a notícia era de que acabara de chegar à cidade um competente cirurgião, jovem e de tirar suspiros! De beleza rara, os cabelos ruivos, olhos vibrantes, provocava todo tipo de reação por onde passava.
Num dos encontros do final de tarde na praça, surgiu a brilhante e unanime ideia de recepcionar com um jantar de boas vindas o ilustre e encantador cirurgião. Tudo foi preparado com “pompa e circunstancia”. Os salões de beleza da cidade estavam com seus horários esgotados, afinal quem sabe uma das donzelas poderia conquistar o coração do príncipe ruivo encantado.
Num salão de festas requintado, todos aguardavam ansiosa a chegada do ilustre convidado, que não demorou muito para estacionar sua “carruagem”. O príncipe veio acompanhado por seus pais, uma bela dama de cabelos presos e com um lindo vestido de cor carmim. O pai elegantemente trajando um lindo terno risca de giz. O príncipe, bom este sem comentários...
Num breve discurso o príncipe ruivo quis agradecer o jantar de boas: - (...) Quanto aos meus pais, creio que muitos desta querida cidade já os conhecem, afinal são filhos desta terra, no entanto, para os que ainda não os conhecem, apresento-lhes: Ariel e Eric.

Abraços,
Cristiane Nogueira








Ao longo da tua vida tem cuidado para não julgares as pessoas pelas aparências.

La Fontaine






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